sábado, 19 de setembro de 2015

Crónicas dos Açores - Episódio 4

No topo do Pico, com um frio de rachar,
à espera do nascer do Sol
Chegámos ao topo do Piquinho (a última "mini-cratera" dentro da grande cratera que encima a montanha do Pico) ainda antes do nascer do Sol uns bons quarenta minutos. Cheguei absolutamente exausto e mal encarado, com um historial de quinhentas mil pragas rogadas ao monte em menos de quatro horas, tal o esforço de subir a maldita montanha com uns bons quilos a mais que da última vez (seis anos antes) e em baixo de forma... MAS SUBI, CARAMBA! E aproveitei o tempo que faltava para me enfiar no saco-cama, encostar a uma fumarola quentinha (estava um frio de rachar) e dormir uma bela sesta de vinte minutos. Em segundos apaguei-me...

Acordou-me algum tempo depois o grande Renato Goulart (o meu guia da subida, detentor de todos os records daquela montanha e um fantástico "reboque" para os que ali vão... digamos, em baixo de forma!), o Sol nasceria em breve, apesar do tempo enevoado. Sentei-me ainda ensalsichado no saco-cama, olhando o horizonte e repassando as aventuras da ilha do Pico. Deixem-me partilhá-las convosco!

Chegara à ilha do Pico dois dias antes, ao final da tarde, e já com o carro nas mãos (obrigado Autatlantis outra vez!) seguira para o simpático Parque de Campismo da Furna, em S. Roque do Pico, onde anos antes montara tenda também. Era tempo da primeira sessão de lavagem a de roupa à mão, que já contava quatro dias de viagem, e por isso passei uma boa hora a esfregar, ensaboar e enxaguar.
O segundo dia, por outro lado, começara com a visita à biblioteca de S. Roque do Pico, onde ficou um exemplar do Pé Descalço, e continuou com a ida para as Lajes do Pico, onde fui muito bem recebido na Câmara Municipal pelo vereador da cultura (que, ao cumprimentar, reconheci como "o" Hildeberto, um colega de curso, em Leiria... o mundo é pequeno!). Seguiu-se um maravilhoso polvo guisado, no simpático restaurante Lagoa, e uma calorosa recepção no Museu dos Baleeiros.

Apresentação do livro no fantástico auditório do Museu dos Baleeiros
Quanto ao museu dos Baleeiros tenho que vos dizer, sem mais delongas, que foi uma das mais bem conseguidas de sempre: num auditório fantástico (em forma de barco, todo em madeira!), com uma divulgação eficaz e uma audiência composta, sorrisos maravilhosos e muita vontade de ouvir as histórias da viagem e do projeto! E no final (imaginem!) ainda tivemos um Pico de Honra, com queijo típico e vinho licoroso da ilha, oportunidade ímpar de degustar as delícias dos Açores e detrocar ideias com quem por ali ficou. Meus caros prof. Manuel Costa e a menina Laurisabel, muito obrigado: foram inescedíveis, em articulação com a câmara municipal e a biblioteca, e fizeram com que tudo funcionasse sobre rodas!
Terminada a apresentação, pelas 23:30, era tempo de rumar à Casa da Montanha, onde o Renato me aguardava para a subida de quatro horas.... No fundo, subira o Pico sem dormir, por isso imaginem o quão demolidor tinha sido a subida.

Nascer do Sol, no topo da montanha do Pico
O Sol começara a despontar entretanto, numa lenta caminhada para fora das nuvens. Foi um dos mais bonitos que já pude presenciar, com cores e nuances magníficas refletidas na cama de algodão fofo que as nuvens faziam lembrar... Lindo! Foi tempo do "Pé Descalço, o livro mais alto de Portugal!", no Facebook, e de encarar novamente a montanha demolidora. Esperava chegar inteiro e capaz, pois depois da noite sem dormir ainda havia a passagem pela biblioteca da Madalena (obrigado menina Fernanda) e uma venda no cais marítimo João Quaresma, também na Madalena (obrigado Portos dos Açores)... E EU A MORRER DE SONO E CANSAÇO!!! Foi por isso que decidi apreciar uma última vez a paisagem, encher-me de coragem e partir... afinal, tudo se iria ultrapassar, como sempre!


"Pé Descalço", o livro mais alto de Portugal, com Ricardo Frade e Renato Goulart, o recordista da montanha do Pico!








domingo, 13 de setembro de 2015

Pequenos gestos aleatórios de Amor


Em Quarteira, à espera do autocarro para regressar ao norte
Estou neste momento a aguardar o autocarro que me levará ao norte, depois de 3 dias de apresentações pelo Algarve. Enquanto espero não resisto a partilhar convosco uma sequência de três fantásticas situações que me aconteceram hoje.

Depois de uma conversa com o Pe. José Campôa, ficou combinado que iria apresentar o livro às comunidades de Quarteira e Vilamoura, hoje de manhã. Assim foi, e o primeiro episódio aconteceu em Quarteira: estava eu a vender livros depois da missa, quando um cavalheiro inglês me abordou, pedindo que lhe explicasse em que consistia o livro e o projeto. Ao perceber que havia uma causa social envolvida, entregou-me 50€, levou um livro e sugeriu que usasse o remanescente para “financiar” um livro a quem não pudesse comprar. Agradeci, e continuei o meu trabalho.

O segundo episódio, já em Vilamoura, surge na sequência deste: uma senhora aproxima-se da banquinha, pergunta mais sobre a história, e no fim diz-me que gostava de comprar, mas como estava desempregada e a situação estava a ficar muito complicada não poderia fazê-lo... A ligação ao episódio anterior foi imediata na minha cabeça, e eu poucos segundos a senhora tinha o seu livro na mão, autografado, cortesia do cavalheiro inglês. A forma comovidíssima com que me agradeceu fez-me relembrar porque escrevera o livro... para ajudar muitos!  E ali estava a acontecer!!!

O terceiro episódio acontece já comigo a arrumar os 7 livros que sobravam, com a última pessoa que se abeirou da banca. A senhora quis conhecer o projeto e o seu mentor, e depois de lhe explicar tudo acabou por pedir um livro, para uma das netas. A conversa continuou, e a certa altura vira-se para mim e pergunta quantos livros sobram... “dará um para cada um dos meus netos?”, perguntou. Querem saber quantos netos tinha?... Pois, é isso: sete!

Costumo dizer que o que deixamos cá, quando partimos, são apenas as memórias e o que de bem fizemos neste mundo... Cada passo desta aventura do Pé Descalço tem vindo a confirmar isto, e por isso deixem-me repetir: a vida é bela!

domingo, 6 de setembro de 2015

Crónicas dos Açores - Episódio 3

Praia do Almoxarife
Pouco passava das 8h da manhã quando saltei para a areia preta da praia do Almoxarife. Estava deserta, como suspeitara, vigiada pela imponente montanha do Pico, do outro lado do canal, e o mar calmo pedia um belo banho madrugador... Assim aconteceu, naquelas águas quentes e transparente, matando as saudades de quando ali estivera pela primeira vez, há alguns anos... era um sítio maravilhoso! A visibilidade debaixo de água era óptima (para uma praia de areia escura), e a quietude do mar transformava-o numa piscina para quem, como eu, adora nadar.
Depois do banho, enquanto secava esticado na toalha, aproveitei para rever o dia anterior... e havia tanto que rever!...

Apresentação no Peter Café Sport
Após uma aterragem "sem espinhas", na Horta, e já sentado no carro que a Auto Turística Faialense tinha preparado para mim, passara pelo Peter a rever detalhes para a apresentação e seguira para Almoxarife, onde a Susana me esperava com um prato de atum fresco, acabado de cozinhar. Fora ela a minha anfitreã naquela noite, graças ao Couchsurfing, na sua bonita casa de portadas de princesa (cor-de-rosa), que gentilmente partilhava comigo. É esta a magia do Couchsurfing, encontrar pessoas fantásticas um pouco por todo o lado, e a Susana foi claramente uma dessas pessoas!
Depois do jantar voltara ao Peter, onde mais uma vez fora muitíssimo bem recebido pelo sr. José Henrique, o terceiro "comandante" do mítico bar, fundado pelo seu avô. Aos poucos a sala foi-se compondo, à medida que a apresentação se aproximava, e continuou depois, para ficar quase cheia de interessados ouvintes, ávidos da história, dos detalhes do livro e das ideias que partilhava nele. Tinha sido um momento interessantíssimo, com gente de idades e origens diferentes, onde a partilha fora rainha e todos aprendemos um pouco. A segunda apresentação também já estava, faltavam sete ilhas!

Estava assim embalado nos pensamentos quando chegaram a Susana e o Zé (outro couchsurfer), para o banho matinal. Voltei à água quente do Atlântico para umas valentes braçadas, e depois de mais algum tempo ao sol voltámos à casinha simpática com portadas de princesa. À nossa espera estava um pequeno-almoço dos deuses (obrigado outra vez, Susana), porque é disto que o Pé Descalço é feito: pessoas boas, fantásticas, um pouco por todo o lado. Era tempo de redescobrir o Faial, e tinha todo o dia para o fazer!